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CASA da RUA da FERRARIA de BAIXO - João Luiz do Couto Alão

  • Writer: Carmen Souza Soares Reis
    Carmen Souza Soares Reis
  • Aug 2, 2024
  • 6 min read

Updated: Mar 25

O Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO já foi objeto de um artigo desse Blog. Ele foi uma figura importante da sua época na cidade do Porto. A casa onde ele viveu ainda existe na antiga Rua da Ferraria de Baixo, atual Rua do Comércio do Porto: uma casa verde-e-amarela muito bem restaurada, que hoje abriga uma repartição governamental. Dediquei muito tempo a pesquisar esse ancestral, pois tinha curiosidade e indagações sobre ele, sobre sua mãe e sobre o apelido Alão. Gostaria muito de descobrir que influência teria tido na vida do seu neto, o meu trisavô Dr. José Alvares de Souza Soares..


Casas de residência da família COUTO ALÃO na cidade do Porto

Rua da Ferraria de Baixo nº 57 e 59



JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO foi Capitão de Milícias e Cavaleiro professo da Ordem de Santiago da Espada, títulos que eram motivo de muita distinção na sociedade do seu tempo. Foi também Procurador da Casa e do Couto de Avintes. Dom Luiz de Almeida Portugal Soares de Alarcão d'Eça e Melo da Silva Mascarenhas (1729-1790), o 5º Conde de Avintes, 2º Marquês do Lavradio e Vice-Rei no Brasil, foi padrinho de batismo de alguns filhos desse meu ancestral.


JOÃO LUIZ ALÃO e ANA MARIA DE JESUS tiveram 13 filhos, mas apenas 9 sobreviveram. Todos nasceram e viveram na sua residência da Rua da Ferraria de Baixo (foto acima) e usufruíram das belas casas e quintas do Conde de Avintes que o seu pai administrava. Sem sombra de dúvida, esse nosso ancestral merece toda a nossa admiração. Deve ter enfrentado muitas adversidades e dispendido tremendos esforços para conseguir sua fama e fortuna.


JOÃO LUIZ (1738-1808) nasceu na Rua do Paraíso, freguesia de Santo Ildefonso, cidade do Porto. Era filho do soldado DOMINGOS LUIZ (1709-1745), da freguesia de São Miguel de Baltar, e de sua mulher MARIA DA NATIVIDADE DO COUTO (n. 1699), da freguesia de Santiago de Beduído. A origem da mãe de JOÃO LUIZ é bastante curiosa e já foi objeto de um artigo desse Blog. Filha natural do cônego Dr. AGOSTINHO MARQUES DO COUTO, foi abandonada pela mãe à porta dos avós paternos, que a batizaram como MARIA DA NATIVIDADE. Foi criada na casa dos avós, mas nunca foi reconhecida pelo pai. Apesar dessa circunstância, seu filho JOÃO LUIZ teve reconhecido seu direito de usar legalmente o apelido COUTO, que consta no assento de seu batismo. Sua família materna, que teve origem no Couto de Cucujães, tem seus nomes registrados nos primeiros livros paroquiais de Santiago de Beduído, do início do século XVII.


DOMINGOS LUIZ faleceu em 1745 aos 36 anos. MARIA DA NATIVIDADE ficou viúva com cinco filhos entre 9 e 2 anos de idade. JOÃO LUIZ tinha apenas 7 anos quando perdeu o pai. Não sei como sua mãe conseguiu sobreviver e criar cinco filhos contando apenas com os recursos financeiros de viúva de um soldado. Não encontrei mais notícias dela: não sei onde foi viver, não sei se casou-se outra vez, nem onde ou quando faleceu. A vida do menino JOÃO LUIZ também permanece envolta em mistério: ignoro quem proveu seu sustento, quem patrocinou seus estudos, ou para quem ele trabalhou. Seu nome só vai aparecer nos registros paroquais do ano de 1760, quando ele se casou na freguesia da Vitória, aos 22 anos.


Não é difícil imaginar que JOÃO LUIZ tenha lutado com imensas dificuldades até chegar a conviver com pessoas ilustres e tituladas como as que apadrinharam seus filhos, especialmente o Conde de Avintes, de quem tornou-se Procurador. Suas qualidades pessoais conseguiram-lhe diversas nomeações reais, sendo a primeira de Capitão de Infantaria Auxiliar. A carta real dessa nomeação e as outras que se seguiram estão repletas de elogios ao seu merecimento, aos seus predicados e à sua capacidade e préstimo a tudo que lhe encarregavam, o que prova que ele era uma pessoa capaz e responsável e que gozava da confiança da Rainha.


O Capitão JOÃO LUIZ adotou o apelido ALÃO enquanto solteiro. Eu não consegui encontrar esse nome ligado a nenhum dos seus ancestrais. Acho possível que se tratasse de uma alcunha. Ele aparece como JOÃO LUIZ ALÃO no assento do seu casamento em 1760 e continua como JOÃO LUIZ ALÃO nos assentos de batismo de todos os filhos, desde 1760 até 1782, quando nasceu o último. Daí por diante, ele empenhou-se num processo burocrático junto à Casa Real para provar que tinha ancestrais da família COUTO, que essa família era nobre, e que ele tinha o direito de usar aquele nobre apelido.


No seu livro "Apontamentos Genealógicos das Famílias Couto Alão, Souza-Soares e Sam Payo de Queirós" (páginas 32-39), meu tio-avô José Delfim Brochado de Souza Soares transcreve diversos documentos oficiais datados de 1789, que refletem a tenacidade de JOÃO LUIZ ALÃO junto à Chancelaria Mór da Corte em Lisboa e à Casa da Relação no Porto para provar que pertencia às "nobres famílias dos Coutos e Alões." Seu processo de Justificação de Nobreza incluiu investigação de Procuradores da Casa Real e depoimentos de várias testemunhas que atestam que ele sempre viveu como nobre, cercado das mais ilustres companhias e tratava-se à lei da nobreza. Investigações posteriores esclareceram um pouco mais sobre a família COUTO.


Os pais do Dr. Agostinho Marques do Couto, MANUEL DO COUTO (1651-1722) e MARIA MARQUES (1646-1700), "viviam abastadamente e tinham a renda da comenda de Santiago de Beduído..." conforme consta do Processo de Habilitação para a Ordem de Cristo de um de seus netos, Agostinho Marques Pereira do Couto (Letra A, Maço 10, Diligência 6, 1758, Torre do Tombo) e do processo de Leitura de Bacharéis de outro neto, Manuel Marques do Couto Cruz (Letra M, Maço 40, Diligência 18, 1754 - Torre do Tombo). Anotações do meu saudoso primo Luiz Dantas de Souza Soares esclarecem que "o Capitão Manuel do Couto viveu abastadamente durante 25 anos, devido ao fato de ter recebido, por interferência de um amigo de seu filho Agostinho, uma herança de que sua avó paterna tinha sido afastada."


Os avós paternos do Dr. Agostinho, BELCHIOR DO COUTO (f. 1677) e MARIA DIAS (f. 1683) são mencionados por um vigário de Beduído que depôs num dos Processos de Inquirição da sua carreira eclesiástica: "Belchior do Couto e sua mulher Maria Dias foram moradores nesta freguesia donde é natural a dita Maria Dias e ele natural da freguesia de Cucujães donde veio a casar nesta freguesia vivendo sempre nobremente dos rendimentos de precedentes e fazendas sem ter ofício ou trato algum." (Arquivo Distrital de Braga: Inquirições de Genere dos Dignitários, Tomo 8º, Fls. 99v).


Esses depoimentos não deixam nenhuma dúvida que a família COUTO vivia de rendimentos, como faziam as pessoas nobres, e não tinham necessidade de trabalhar.


Em 1790, o Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO conseguiu realizar o seu objetivo de ser reconhecido como Fidalgo de Cota d'Armas e adquiriu o direito de usar brasão.


Brasão de Armas concedido a João Luiz do Couto Alão


Seu brasão foi convertido em pedra d'armas e atualmente encima o portão do Casa do Paço de Airão, em Guimarães. Essa casa pertencia ao Conde de Avintes e chamava-se originalmente Casa do Paço d'Além, como aparece num documento datado de 11-11-1788 em que o Conde de Avintes fez prazo de patrimônio em favor do seu afilhado Antonio Luiz do Couto Alão (1779-1831). A data 1789 está gravada na pedra d'armas e talvez indique o ano em que a família tomou posse da casa. Esse afilhado do Conde é citado em várias fontes genealógicas como Senhor da Casa do Paço de Airão, mas ele tornou-se padre e a sua casa passou por herança para os descendentes de sua irmã Ana Felizarda do Couto Alão (1767-1816), casada com o Major João Xavier de Oliveira Barros Leite (1759-1836), o qual também era procurador do Conde de Avintes. Maiores detalhes sobre a Casa do Paço de Airão constam em outro post desse Blog: "Família Couto Alão - Casas em Avintes, no Porto e em Airão."


Portão da Casa do Paço de Airão, em Guimarães



Em 1798, oito anos depois de ter sido reconhecido Fidalgo, JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO recebeu mais uma honraria. Em remuneração pelos seus serviços, a Rainha Dona Maria I concedeu-lhe o Hábito da Ordem de Santiago da Espada "com 12 mil réis de tença efetiva" e o direito a usar a Insígnia da referida Ordem. Depois que recebeu o Hábito, foi-lhe concedida a honra da Profissão na Ordem, que foi realizada na Catedral do Porto, com todas as cerimônias que a Regra dispõe. No meu entender, o título de Cavaleiro Professo da Ordem de Santiago da Espada foi a maior honraria que JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO recebeu na sua vida.


A história do Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO teve um final feliz: ele viveu até o ano 1808 e usufruiu do título de fidalgo de brasão de armas durante os últimos 18 anos de vida. Ele faleceu aos 70 anos de idade, no dia 25 de novembro de 1808, na sua casa da Rua da Ferraria de Baixo. Estava viúvo desde o ano anterior. Foi sepultado na Capela dos Terceiros do Carmo.


De toda a sua luta, restaram a Carta da Rainha que lhe concedeu o tão almejado Brasão de Armas (reproduzida abaixo) e diversos imóveis que ficaram para os seus netos. A casa da Rua da Ferraria de Baixo passou por herança para os filhos de Inocêncio Alvares de Souza Soares e Custódia Joana do Couto Alão.



CARTA de FIDALGO de COTA d'ARMAS

de JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO

passada pela Rainha Dona Maria I em 18 de maio de 1790



Cartório da Nobreza, Processos de Justificação de Nobreza para uso de Brasão de Armas

Maço 26, Ano 1790 - PT/TT/CR/D-A/004/0026/00019


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