ORIGEM da QUINTA de SOUTELO - Família Magalhães

Os amigos e genealogistas que me prestigiam com a leitura desses artigos sobre casas senhoriais portuguesas ligadas à minha família, já terão lido um post anterior sobre a QUINTA do PAÇO de SOUTELO, atual propriedade da família KEATING na freguesia de Constance. Tive o prazer de visitar essa casa e conhecer o saudoso patriarca daquela família, Patrick Francis de Azeredo Keating, primo dos meus primos Soares da Mota de Azeredo (netos da tia Joana Ramos de Souza Soares), e sua mulher Maria Isabel Pereira Marramaque, tia dos meus primos Andrade de Souza Soares (filhos do tio José Delfim Brochado de Souza Soares). Foi uma surpresa verificar que a propriedade da família KEATING é a mesma QUINTA DE SOUTELO da família MAGALHÃES, que são ancestrais da família TEIXEIRA LEITE do Brasil e de Portugal.

Minha sexta-avó ANTONIA RAFAELA DE MAGALHÃES E VASCONCELOS nasceu na QUINTA do PAÇO de SOUTELO em 30 de outubro de 1714. Seu nome aparece em algumas fontes com o apelido MENDES DE VASCONCELOS, tirado do seu bisavô João Mendes de Vasconcelos. Adotei a versão que inclui o apelido MAGALHÃES, tal como aparece nos nomes dos seus irmãos e do seu filho JOÃO LEITE CABRAL DE MAGALHÃES E VASCONCELOS, cuja filha herdeira MARIA JOSÉ DO CARMO LEITE DE MAGALHÃES CAMELLO é minha anxestral. Ela casou-se com Bernardo Antonio Julio Teixeira de Azeredo Monterroio, da Quinta de Vila Nova em Castelões e seu filho primogênito foi o meu trisavô JOÃO TEIXEIRA LEITE DE AZEREDO MONTERROIO, patriarca da família TEIXEIRA LEITE.

Os registros paroquiais mais antigos da freguesia de Constance contém os nomes dos moradores do lugar de SOUTELO que foram ancestrais de Antonia Rafaela: GASPAR TEIXEIRA e sua mulher ISABEL PINTO DE MAGALHÃES. Eles casaram-se em 1586 em Aveleda, freguesia da família da noiva, que era da QUINTA de LAMAS. No primeiro artigo que escrevi sobre a Quinta do Paço de Soutelo, mencionei que esse casal provávelmente detinha o senhorio da Quinta de Soutelo. Agora já está confirmado: GASPAR TEIXEIRA foi senhor da QUINTA de SOUTELO de BAIXO. Explico como descobri.

Sou genealogista e o meu principal instrumento de trabalho são os livros paroquiais. Assentos de batismo, casamento e óbito geralmente mencionam os lugares onde as pessoas viviam, mas nem sempre especificam se eram proprietários, familiares ou criados. A investigação da propriedade dos imóveis requer outros meios. A Igreja Católica era proprietária de muitas terrras em Portugal. Fazia prazos e cobrava taxas daqueles que nelas viviam e trabalhavam a terra. Portanto, existem documentos da Igreja que podem revelar a origem de certas casas senhoriais.

Meu primo e confrade Francisco de Souza Soares da Gama tem feito estudos em documentos da Igreja, preservados nos Arquivos da Torre do Tombo. Em documentos do Mosteiro de Paço de Sousa, ele teve a sorte de encontrar preciosas informações sobre os nossos ancestrais de Castelo de Paiva e o assunto virou um post sobre o CASAL da RANHA. Já agora, esse mesmo primo fez outra importante descoberta num documento do Cabido da Sé de Lamego, que deu origem ao presente artigo. As imagens que ele teve a gentileza de partilhar comigo estão reproduzidas no final desse artigo.

O mencionado documento do Cabido da Sé de Lamego prova alguns pontos interessantes:

1) A QUINTA de SOUTELO está, de alguma forma, ligada ao CASAL da LAMA.

2) Os Magalhães viveram na QUINTA de SOUTELO desde 1589 e lá permaneceram durante uns 200 anos.

3) Os Coelho de Magalhães da CASA do EIDO vem dos Magalhães da QUINTA de SOUTELO.

Vamos agora examinar o documento:

ANTT - CABIDO DA SÉ DE LAMEGO - LIVRO Nº 37 - páginas 125 e 126

PÁGINA 125 - data 8 de outubro de 1544 - primeira menção à QUINTA de SOUTELO:

"De uma Quinta em Soutelo, do CASAL da LAMA, fizeram prazo a JOÃO FERNANDES, de Soutelo... (por Brás Coelho)..."

Identificação:

Não consegui identificar este João Fernandes que deteve o prazo da QUINTA de SOUTELO em 1544, mas foi interessante descobrir a ligação dessa quinta com o CASAL da LAMA...

PÁGINA 125 - data 27 de setembro de 1589 - segunda menção à QUINTA de SOUTELO:

"Desta mesma Quinta em SOUTELO e seus casais, fizeram prazo a GASPAR TEIXEIRA e sua mulher... (por João Roiz)..."

Identificação:

GASPAR TEIXEIRA era nosso ancestral. Ele casou-se em 1586 com ISABEL PINTO DE MAGALHÃES, filha de GREGÓRIO DE MAGALHÃES DE AZEVEDO, Senhor da QUINTA de LAMAS.

Em 1612 a Quinta de Lamas passou por herança para Gregório de Magalhães Coelho, irmão de Isabel, que faleceu em 1619. Sua mulher Inês de Seixas Ribeiro deteve o senhorio da Quinta de Lamas até a sua morte em 1651.

PÁGINA 125 - sem data - continuação dos prazos e pagamentos:

"Há de pagar... mas isto em 3ª vida... JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES..."

Identificação:

JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES, Senhor da QUINTA de SOUTELO de BAIXO, filho de GASPAR TEIXEIRA e ISABEL PINTO DE MAGALHÃES, foi bisavô da nossa ancestral ANTONIA RAFAELA DE MAGALHÃES E VASCONCELOS acima mencionada.

ANTONIA RAFAELA DE MAGALHÃES E VASCONCELOS nasceu em 1714 na Quinta de Soutelo e casou-se em 1742 com Cristóvão Antonio Leite Cabral, Senhor da Quinta do Eirô em Castelões. Ela herdou a Casa do Ribeiro em Oliveira, dos seus primos em 3º grau João Aranha de Magalhães e Joana Baldaya Beliagoa (ver cópia do testamento no final do artigo). Essas duas propriedades passaram para seu filho JOÃO LEITE CABRAL DE MAGALHÃES E VASCONCELOS e depois para sua neta MARIA JOSÉ DO CARMO LEITE DE MAGALHÃES CAMELLO, que casou-se com Bernardo Antonio Julio Teixeira de Azeredo Monterrroio, Senhor da Casa de Vila Nova em Castelões. Esse casal é ancestral da família TEIXEIRA LEITE (pelo seu filho primogênito JOÃO TEIXEIRA LEITE DE AZEREDO MONTERROIO c.c. Anna Victoria de Queirós) e da família MONTERROIO DE LENCASTRE (pelo seu filho Rodrigo Augusto Teixeira de Azeredo Monterroio c.c. Anna de Meneses e Lencastre).

PÁGINA 125 - data 5 de maio de 1639 - continuação das menções aos prazos:

"De outros casais, do EIDO e da LAMA, fizeram prazo a MELCHIOR COELHO DE MAGALHÃES... (por Eliseu de Araujo Ferraz, da Vila de Santa Cruz)...

Identificação:

O Capitão Melchior Coelho de Magalhães (1612-1678) era meio-irmão do nosso ancestral JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES, falecido em 29 de agosto de 1655 na sua QUINTA de SOUTELO. Melchior Coelho de Magalhães era filho do segundo casamento de ISABEL PINTO DE MAGALHÃES com Melchior Dias de Babo, Senhor da Casa da Quintã (outra propriedade em Constance, próxima à QUINTA de SOUTELO), que passou para outro filho do casal, o Capitão Domingos Coelho de Magalhães (1599-1672).

Em 1639, o Capitão Melchior Coelho de Magalhães conseguiu o prazo do CASAL do EIDO (pode e deve ser a Casa do EIDO, onde viria a nascer a nossa ancestral Angela Coelho de Magalhães c.c. Capitão Antonio de Souza e Vasconcelos, da Quinta de Fundevilla) e do CASAL da LAMA (poderia ser a Quinta de LAMAS, da família Magalhães em Aveleda, Lousada, mas é mais provável que seja o CASAL de LAMAS em Vila Caiz, pois esse aparece mais adiante na página 126).

Por curiosidade: Eliseu de Araujo Ferraz, cujo nome aparece envolvido na transação do prazo de 1639, era Sargento-Mór de Santa Cruz e Senhor da Casa do Marmoiral, por seu casamento com Brites Brochado de Souza. Seu filho Amador de Souza Sanhudo foi o segundo marido da nossa ancestral Camila Ferreira Leite Cabral, avó materna de Cristóvão Antonio Leite Cabral, Senhor da Quinta do Eirô e marido de Antonia Rafaela de Magalhães e Vasconcelos.

PÁGINA 125 - data 1719 - continuação da renovação dos prazos:

"JOÃO ARANHA renovou o prazo desta Quinta (de Soutelo) e de todos os casais pertencentes a ela, sem haver respeito aos emprazamentos que tinha feito aparte, do Casal do Eido e do Casal de Lamas e do Casal de Caíde, a JOÃO DE MAGALHÃES COUTINHO e sua mulher (Notas de Felipe Rebelo)..."

Identificação:

JOÃO DE MAGALHÃES COUTINHO foi pai da nossa ancestral Antonia Rafaela de Magalhães e Vasconcelos. Ele viveu na Quinta de Soutelo pelo menos entre 1694 e 1714. Mas quem seria o JOÃO ARANHA que renovou o prazo da Quinta de Soutelo sem respeitar emprazamentos feitos a esse mesmo JOÃO DE MAGALHÃES COUTINHO? Houve um João Aranha de Magalhães que viveu entre 1634 e 1715 e era tio paterno de JOÃO DE MAGALHÃES COUTINHO. Só que em 1719 ele já tinha falecido... Será possível que os padres do Cabido da Sé de Lamego demoraram a anotar a renovação do prazo da Quinta de Soutelo por esse João Aranha (de Magalhães)? Parece ter sido o caso... Existiu um João Aranha Coutinho nessa família, mas em datas anteriores e parentescos mais distantes...

PÁGINA 126 - sem data - menção de um prazo do CASAL de LAMAS:

"Dessa quinta (Soutelo?) se criou um casal que chama de LAMAS no lugar de CAINS (?) do qual fizeram prazo a ANTONIO DA SILVEIRA ... há de pagar ... GASTÃO PINHEIRO pagou isto em 3ª vida..."

Identificação:

ANTONIO DA SILVEIRA foi Senhor de VILA CAIZ e teve seu senhorio confirmado pelo Rei Dom Sebastião em 1577 e pelo Rei Dom Felipe II em 9 de dezembro de 1594. Foi casado com Lucrécia Brandão. GASTÃO PINHEIRO era genro de Antonio da Silveira, casado com sua filha Leonor Brandão. Foi Morgado de Canaveses, por herança de sua mãe, Joana Pinheiro, filha de outro Gastão Pinheiro.

PÁGINA 126 - continua a menção do CASAL de LAMAS:

"Parece que este casal (de Lamas) foi de ANTONIO GONÇALVES FERREIRO (?) por ... a 28 de janeiro de 1569... porque não fizeram prazo a ANTONIO DA SILVEIRA... não achei..."

Identificação:

Não sei quem é o Antonio Gonçalves Ferreiro (?) que viveu em 1569...

PÁGINA 126 - continuação:

"... MELCHIOR COELHO DE MAGALHÃES vai incluso no prazo... na folha retro..."

Identificação:

O Capitão Melchior Coelho de Magalhães (1612-1678) já foi identificado acima. Nasceu e faleceu na QUINTA de SOUTELO e deteve os prazos dos Casais do EIDO e da LAMA. Sua neta Isabel Maria Pinto de Magalhães (1673-1739) nasceu e faleceu na CASA da QUINTÃ em Constance.

PÁGINA 126 - continuação:

"... JOSÉ ANTONIO filho de JOÃO DE MAGALHÃES COELHO e D. ISABEL.."

Identificação:

José Antonio Pinto de Magalhães (1711-1792), filho de João de Magalhães Coelho (1667-1715) e sua mulher Isabel Maria Pinto de Magalhães (1673-1739), da Casa da Quintã, casou com Maria Gonçala Pinto de Mesquita (1694-1764), de Carvalhosa, filha do Capitão Antonio Pinto de Mesquita (n. 1663) da Quinta de Vila Verde em Caíde de Rei, e de sua mulher Angela Pinheiro de Seixas (f. 1698) da Quinta do Paço de Carvalhosa. A família Pinto de Mesquita ainda detém o senhorio da Quinta de Vila Verde e da Quinta do Paço de Carvalhosa.

Por coincidência, essa mesma Angela Pinheiro de Seixas (f. 1698) que foi sogra do José Antonio Pinto de Magalhães (1711-1792), era parente dos nossos ancestrais da Casa de Fundevila em Carvalhosa e da Casa de Vila Nova em Castelões. Ela era filha do Sargento-Mór João de Souza Monteiro (1634-1707), Senhor da Casa do Ribeiro em Toutosa (irmão do nosso ancestral Pedro Aleixo de Souza), e de sua mulher Angela Pinheiro de Seixas (1632-1672), filha do Sargento-Mór Simão de Carvalho Teixeira (f. 1668) e de Leonor Pinheiro de Seixas (1599-1645), da Quinta do Paço em Carvalhosa, neta materna de Felipe Teixeira de Seixas (f. 1624), da Casa de Vila Nova em Castelões, e de Antonia Pinheiro, Senhora da Quinta do Paço em Carvalhosa.

Simão de Carvalho Teixeira e Leonor Pinheiro de Seixas também são ancestrais da família da Casa de Regoufe em Cavalhosa, pela sua filha Mariana Teixeira de Seixas c.c. Romão de Matos, da CASA do EIDO em Carvalhosa.

Temos outra ancestral da CASA do EIDO de Carvalhosa: Angela Coelho de Magalhães (1680-1757) casada com o Capitão Antonio de Souza e Vasconcelos (1682-1765), Senhor da Quinta de Fundevila em Carvalhosa, que foram bisavós de Dona Madalena Emilia Vasconcelos de Mesquita, a matriarca da Casa da Botica de Vila Meã.

Observação: Ficam várias questões em aberto sobre a localização das quintas e dos casais mencionados nesse documento do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

ANTT - CABIDO DA SÉ DE LAMEGO - LIVRO Nº 37 - página 125

ANTT - CABIDO DA SÉ DE LAMEGO - LIVRO Nº 37 - página 126

Abaixo está o documento final desse artigo, que envolve filhos, netos e bisnetos de JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES, senhor da QUINTA DE SOUTELO DE BAIXO, filho de Gaspar Teixeira e de Isabel Pinto de Magalhães, todos eles mencionados no documento dos prazos concedidos pela Sé de Lamego. Trata-se do testamento conjunto de Henrique Baldaia de Magalhães e D. Ana Maria Baldaia (ambos filhos de João Aranha de Magalhães e netos de JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES), pelo qual legaram às suas primas de 3º grau Antonia Rafaela e Caetana Maria (filhas de João de Magalhães Coutinho, que era neto de JOÃO TEIXEIRA DE MAGALHÃES e sobrinho de João Aranha de Magalhães) a sua casa do Lugar do Ribeiro de Baixo, em Oliveira. Pelo mesmo documento, fizeram herdeiro dos seus bens de raiz o filho de Antonia Rafaela, João Leite Cabral de Magalhães (seu primo em 4º grau), que já morava com esses tios na Casa do Ribeiro. Ele foi também herdeiro de seu pai Cristóvão Leite Cabral na centenária Quinta do Eirô em Castelões de Recesinhos, onde ambos nasceram.

Apenas para enfatizar o que foi dito no início desse artigo, repito que João Leite Cabral de Magalhães foi senhor da Casa do Ribeiro e a Quinta do Eirô e que deixou as duas propriedades de herança para sua filha Maria José do Carmo Leite de Magalhães Camelo, que se casou com Bernardo Antonio Julio Teixeira Monterroio, morgado da Quinta de Vila Nova. Desse casamento descendem os Monterroios de Lencastre (descendentes do seu filho Rodrigo c.c. Ana de Lencastre, da Casa de Cabanelas), que herdaram a Quinta de Vila Nova, e os Teixeira Leite (descendentes do seu filho João c.c. Anna Victoria de Queirós, da Casa da Botica), que herdaram a Casa do Ribeiro e a Quinta do Eirô, e foram meus trisavós.

CRÉDITO: Este documento me foi disponibilizado por especial cortesia do primo Francisco Manuel de Souza Soares da Gama e integra o seu livro ainda inédito "Uma Família de Terras de Paiva".